Por MARIANA LINS COSTA*
Elon Musk é o bilionário da anomalia que redefine a disputa entre EUA e China
“A ideia básica era a seguinte: nunca conseguiríamos vencer uma eleição para alcançar certas coisas, porque somos uma minoria muito pequena.
Mas talvez se pudesse, de fato, mudar o mundo unilateralmente, sem ter que convencer, implorar ou suplicar o tempo todo para pessoas que nunca vão concordar com você – por meio de meios tecnológicos. E é aí que eu penso:a tecnologia é essa alternativa incrível à política” (Peter Thiel (Palantir), numa conferência em 2010).
“Já sem ciência há material suficiente para mil anos, mas precisamos organizar a obediência. No mundo só falta uma coisa: obediência” (Fiódor Dostoiévski, Os demônios).
“Mark Zuckerberg se declarou um defensor da liberdade de expressão, mas testemunhei a Meta trabalhar em estreita colaboração com o Partido Comunista Chinês para construir e testar ferramentas de censura personalizadas que silenciaram e censuraram seus críticos” (Sarah Wynn-Williams, ex-diretora da Meta, em testemunho ao Senado dos EUA, em abril de 2025).
A comédia do trágico
Se há algo a aprender com os anarquistas de outrora, talvez não seja tanto a sua utopia – afinal, adentramos um mundo cada vez mais distópico –, mas o seu modo de denunciar. Porque, ao que parece, nós da esquerda passamos a confundir análise política com proselitismo moral.
A filosofia da história, com sua promessa de happy end inequívoco – em que a mocinha povo se casa com o príncipe justiça social – parece que nos encantou a tal ponto que passamos a confundir ciência política com julgamento de caráter de tonalidade capacitista: condenar moralmente, diagnosticar psiquiatricamente e zombar intelectualmente daqueles que impedem essa tão ansiada união, tornou-se a “estratégia” argumentativa mais amplamente difundida entre nós – que não podendo mudar o mundo, nos auto-instituímos o seu modelo moral.
Elon Musk é um exemplo incontornável desse nosso fenômeno em que ataques ad hominem, ainda que justos, são apresentados como argumento. Em muitos comentários que se pretendem políticos, as premissas e conclusões não dizem muito além de que ele é um idiota, mimado, drogado, burro — e até mesmo um derrotado, o que é, em termos objetivos, uma contradição em termos.
Ou seja: parece que adotamos a lógica de que reduzir o inimigo ao gênero do cômico basta para desativar a sua potência. Contudo, como já avisava Fiódor Dostoiévski, o trágico não só é tão engraçado quanto o cômico – como, às vezes, é o caso de se ter medo do cômico.
Pois o problema da obscenidade de Elon Musk não está em sua moral, em seu temperamento nem no seu histórico psicofarmacológico. Está na estrutura que o torna indispensável enquanto o mundo desaba. Reduzi-lo a um bufão é confortável. Seguir as trilhas que revelam a magnitude da exceção que ele encarna Elon Musk – isso, sim, é insuportável.
Emma Goldman, por exemplo, não buscou alívio no cômico e nem por isso foi conivente com aqueles que escravizavam as massas. Denunciou tanto o militarismo nascente nos Estados Unidos, ainda em fase de acoplamento com o capitalismo, quanto os métodos tirânicos do Partido Comunista da Rússia ainda sob Lênin. Suas conclusões, embora não limitadas a dados — já que não padecia de falta de imaginação política —, tinham neles o seu fundamento.
Especialmente nas denúncias, apoiava-se em premissas factuais: informações específicas, documentos, números, nomes, leis. Não padecia, portanto, do problema que diagnosticou nos intelectuais do seu tempo — a ignorância ou indiferença diante dos assuntos mais urgentes e elementares, tanto locais quanto globais. Em termos atuais: Emma Goldman não tirava conclusões políticas sem reunir uma profusão de dados. E isso numa época em que os dados nem sequer haviam sido proclamados como o novo ouro — ela já agia como quem soubesse.
Falar de Elon Musk, se não for mera conversa de boteco, exige, portanto, partir de dados — até porque ele não é apenas um empresário com influência, um bilionário qualquer. Os consumidores de Elon Musk não são apenas civis comuns. Pois, se uma parte da sua fortuna foi garantida pelo apoio sem precedentes do governo chinês à Tesla, outra parte é paga diretamente pelo complexo industrial-militar estadunidense. Em linguagem técnica, Elon Musk é um defense contractor.
Isso significa que suas empresas — com destaque para a SpaceX — fornecem bens, serviços e tecnologias ao Departamento de Defesa (DoD),[i] nada menos que o coração operacional e estratégico das Forças Armadas dos Estados Unidos. Mas não só: há contratos ativos também com a NASA[ii], a CIA,[iii] a National Reconnaissance Office (NRO)[iv] e outras agências do aparato de segurança nacional.[v]
Elon Musk, portanto, não é um CEO com contratos estatais. Fornecer ao DoD não é como vender software a uma repartição pública. Ele opera tecnologia essencial para a ação militar e de inteligência, o que significa que o complexo militar mais poderoso do planeta é hoje indissociável das suas empresas. Um episódio bastante revelador desse poder de interferência militar ocorreu em setembro de 2022, durante uma tentativa da Ucrânia de atacar a frota russa na Crimeia com drones subaquáticos.
A Starlink, contratada pelo governo de Joe Biden por milhões de dólares para fornecer comunicação segura ao exército ucraniano, negou a cobertura na Crimeia por ordem direta de Elon Musk. Com isso, os drones, ao se aproximarem da região, perderam conexão e falharam. Elon Musk justificou dizendo que não queria ser cúmplice de um ato de guerra.
Mas se essa capacidade transitar entre adversários geopolíticos parecia apenas curiosa em setembro de 2022, ela se torna absolutamente reveladora em junho de 2025 — quando, no exato momento em que Trump bombardeia instalações nucleares iranianas, Elon Musk assina um novo contrato bilionário com o governo de Xangai e ativa, por decisão própria, o sinal da Starlink sobre o território iraniano, rompendo o blackout digital imposto pelo regime e restabelecendo o acesso à internet para milhares de terminais clandestinos.[vi]Ao que parece, portanto, nem a escalada militar é capaz de deslocá-lo.
O prestígio de Elon Musk entre adversários geopolíticos não se limita ao plano das decisões estratégicas: também se expressa no simbólico. Dias após o incidente na Crimeia — e, portanto, ainda em meio a uma guerra por procuração que segue até hoje — Vladimir Putin elogiou o maior defense contractor dos EUA como “um empresário inovador e talentoso”, que deve ser reconhecido pelo mundo todo por suas qualidades [vii]
Elogios que, diga-se de passagem, tornaram-se mútuos por meio da figura de seu pai, Errol Elon Musk. Já tendo declarado publicamente que “admirar Putin é apenas natural”,[viii] Errol participou neste famigerado junho de 2025, do Fórum Futuro 2050 em Moscou — evento organizado por um magnata conservador ortodoxo e pelo ideólogo ultranacionalista Alexander Dugin, uma figura comparável a Steve Bannon e o falecido Olavo de Carvalho dentro do espectro global do tradicionalismo autoritário. Segundo noticiado por diversos veículos, o objetivo do encontro foi contrastar os “valores russos” com a confusão moral do Ocidente — “a cultura woke”, como diria Elon Elon Musk.[ix]
Mas a contribuição da família Elon Musk ao mundo multipolar — celebrado como promessa de um futuro radiante, embora agora suspenso sob a ameaça concreta de uma nova guerra mundial — não para por aí. Se o pai de Elon Musk tem ligações diretas e ideológicas com a Rússia, sua mãe, Maye Elon Musk, é uma celebridade na China.
Bastante ativa em plataformas como Xiaohongshu (RedNote), Douyin (versão chinesa do TikTok) e Weibo, Maye acumula centenas de milhares de seguidores. Atua como uma espécie de embaixadora informal do soft power chinês: já participou de eventos promovidos por entidades estatais — como o China Media Group — e por governos municipais, como em Wuxi, onde prestigiou um espetáculo de drones e artesanato local patrocinado pelo poder público.
Também foi convidada por gigantes como a Alibaba,[x] cujos vínculos com o Partido Comunista são notórios, e é embaixadora de marcas chinesas como Oppo, AISE Baobao e JNBY. Assome-se a isso que a autobiografia, A Woman Makes a Plan, tornou-se um best-seller na China — uma verdadeira história de superação, segundo a própria. [xi]
Diante dessa constelação, é preciso reconhecer que a nossa primeira-dama foi injustiçada ao ser acusada de causar constrangimento no encontro entre Lula e Xi Jinping ao mencionar a relação do TikTok com a extrema-direita.[xii]
Constrangimento real, se houvesse espaço para perguntas fora do script diplomático, talvez surgisse se ela indagasse como, apesar da “regulação muito forte” das redes sociais — a ponto de, segundo o próprio presidente chinês disse à primeira-dama, “se não seguir as regras, tem efeito, tem prisão, tem toda uma legislação” —,[xiii] justo a mãe de Elon Musk tornou-se um ícone nas redes sociais chinesas ainda mais poderoso do que nas estadunidenses.
Ou como pôde aceitar que a Meta tenha contribuído com o Partido Comunista por ele liderado, segundo denúncia de uma ex-diretora da empresa ao Senado dos EUA, para “construir e testar ferramentas de censura personalizadas que silenciaram e censuraram seus críticos”,[xiv] enquanto, aqui no Brasil, a mesma Meta — assim como a Google — oferece treinamento de IA para apoiadores de Bolsonaro.[xv]
Sim, como bem dizia Dostoiévski: tudo isso é cômico demais para não ser trágico.
Soft power chinês – efeito ou causa?
Nos últimos anos — e, de modo mais intenso, nos últimos meses — vem ganhando força no Brasil e em parte do Ocidente uma narrativa curiosamente homogênea sobre a China: estaríamos, enfim, diante de uma potência econômica de vocação coletivista, que teria erradicado a pobreza extrema por meio de educação, planejamento e trabalho duro.
Uma potência generosa com o Sul Global, que constrói aeroportos em vez de impor sermões (conforme a anedota, sempre invocada, do ministro nigeriano); e que, longe do caos informacional do Ocidente, protege-se com regulação firme e eficiente.
A única capaz de frear o poder das Big Techs, reafirmando a primazia soberana do Estado sobre o mercado — e, por isso, candidata natural ao posto de vanguarda do mundo multipolar. Uma superpotência em ascensão que em vez de gerar temores, gera esperança, pois enquanto os Estados Unidos são o império intervencionista por excelência — marcado por guerras, sabotagens e golpes —, a China se apresenta como uma potência cooperativa, focada em negócios e desenvolvimento mútuo. De um lado, o intervencionismo militar; de outro, a diplomacia dos investimentos.
Essa é a narrativa repetida por setores da esquerda. E não é completamente falsa. O problema é que raramente vem acompanhada de análise. O que prevalece é a lógica binária: se os EUA são uma fake democracy, então a China é uma fake dictatorship — e, portanto, mais democrática do que uma democracia falsa. Se a liberdade de expressão no Ocidente serve para amplificar horrores, então sua ausência na China seria, por inversão, uma forma superior de liberdade. E, afinal, quem precisa de liberdade?
Fato é que tanto Elon Musk, quanto Trump — este com seu ethos autoritário cada vez mais escancarado — passaram a operar como garotos-propaganda involuntários da aliança China-Rússia. O leva inevitavelmente à acusação do arquiteto da desinformação Steve Bannon, de que Elon Musk é um quadro do Partido Comunista Chinês[xvi] – ainda que, se fosse o caso de levar essa hipótese a sério, seria preciso somar Trump como quadro do Kremlin. Uma hipótese de um Trump-KGB que, embora absurda, foi supostamente documentada por Craig Unger no livroAmerican Kompromat, e por Luke Harding, ex-correspondente do The Guardian em Moscou, no livro Collusion.[xvii]
Hipóteses absurdas à parte, estamos efetivamente a testemunhar uma inversão. Se antes era o Ocidente democrático que comovia as massas ilustradas ao denunciar a imagem — censurada na China — do jovem solitário em frente ao tanque na Praça da Paz Celestial, em junho de 1989,[xviii] agora é o regime chinês que se apresenta como o homem em frente ao tanque do imperialismo estadunidense. Mas o spoiler parece ser, nesse cenário, outro: não há rebelde em frente ao tanque — só há tanque e tanque disfarçado de rebelde em frente ao tanque.
Esse avanço do chamado soft power chinês não é opinião. Segundo matéria publica pela Revista Fórum, sob o título “The Economist admite potência do soft power da China”, em 2025, a China ultrapassou o Reino Unido no ranking global da consultoria Brand Finance, tornando-se a segunda nação mais poderosa do mundo em termos de soft power, atrás apenas dos Estados Unidos. O país saltou do 8º lugar em 2021 para o 2º em 2025, no que foi considerado seu melhor desempenho desde o início do monitoramento.
Já “a ONG dinamarquesa Alliance of Democracies Foundation, dedicada à promoção da democracia e de mercados livres, apontou que a percepção líquida da China cresceu de -4% para +14% entre 2022 e 2025, enquanto a dos EUA caiu de +22% para -5% no mesmo período”. Segundo o próprio conceito, soft power é a capacidade de um ator internacional moldar as preferências de outros por meio da atração e da persuasão — sem uso de força militar ou coerção econômica.
Mas é justamente aí que mora o problema. Pois a matéria da Fórum, um veículo claramente governista, parece celebrar esse aumento de percepção positiva como se fosse resultado de uma premiação moral de superioridade efetiva da China. Já no subtítulo a ausência de distanciamento crítico se faz presente: “‘Bíblia’ do liberalismo dá o braço a torcer e constata que a juventude do mundo tem novos olhos para a potência asiática”.[xix] Toda a matéria sugere, como subtexto, uma equivalência entre soft power e mérito ético que, por lógica, implicaria reconhecer a superioridade moral dos EUA ou da Europa enquanto seu soft power reinou absoluto. Esse é, porém, só um exemplo. Há muitos outros e eles tendem a aumentar.
Ora, encantar o mundo não é, necessariamente, virtude. Entusiasmar-se com o aumento do soft power de uma nação é prova cabal de que se foi capturado por ele. É como aplaudir uma hipnose por sua eficácia — sem perceber a razão pela qual se aplaude.
Mais prudente seria recordar o óbvio: a ascensão cultural, econômica e militar da China não é, por contágio, emancipadora para seus parceiros periféricos. Que aeroporto construído em troca de commodities não é o mesmo que solidariedade revolucionária. Que a paciência de um império milenar não é sinônimo de compaixão. Que a estratégia de uma civilização milenar, sem compromisso com eleições em intervalos de míseros quatro anos, permite a paciência de esperar por décadas — quiçá séculos — até chegar a primeira colheita.
Em termos práticos: antes de festejar o suposto novo protagonismo da China, talvez valesse ao menos investigar de que modo o Estado chinês — incluindo figuras como Li Qiang, atual primeiro-ministro e número dois do Partido — atuou diretamente para transformar Elon Musk no homem mais rico do planeta.
Porque, apesar das tensões entre EUA e China, Elon Musk segue transitando com fluidez entre regimes em disputa – o que inclui ainda, como se sabe, não só a Rússia, como também Israel, de quem Elon Musk, segundo Benjamin Netanyahu, é um “amigo querido”.[xx] Que ele seja o homem mais rico do mundo certamente lhe confere poder econômico, acesso político, influência midiática. Mas isso não explica, por si só, a ausência de retaliação real. Nem Donald Trump nem Xi Jinping parecem dispostos a derrubá-lo. Pelo contrário: ambos o fortalecem.
E isso talvez diga menos sobre Elon Musk do que sobre a lógica do sistema que o sustenta — um sistema em que a anomalia não é um erro: é a regra que se revela.
O privilégio chinês de Elon Musk
Como não temos acesso a informações confidenciais — como aquelas com que Julian Assange revelou guerras de fachada e bilhões circulando entre bancos-fantasmas —, resta concentrar-nos no que é publicizável. E, nesse contexto, é suficiente olhar com atenção para a história da Tesla na China.
Para isso, utilizaremos como base primária (não exclusiva) a investigação conduzida pelos jornalistas Elsie Chen, Erika Kinetz e Dave Kang, publicada no dia 12 de fevereiro de 2025 na Associated Press — agência amplamente reconhecida como uma das fontes mais confiáveis e rigorosas do jornalismo internacional. A reportagem é intitulada: “Her parents were injured in a Tesla crash. She ended up having to pay Tesla damages”.[xxi]
Comecemos.
Em 2019, sob a liderança de Li Qiang — então secretário do Partido em Xangai —, a Tesla tornou-se a primeira montadora estrangeira a operar na China com 100% de controle — e, com isso, a primeira empresa estrangeira a deter integralmente um empreendimento no país.
E mais: recebeu empréstimos com juros abaixo do mercado, incentivos fiscais generosos, e teve sua instalação acelerada com apoio direto do Estado: em menos de um ano, a fábrica já produzia veículos. Um modelo de crédito de emissões de poluentes automotivos, inspirado em programas norte-americanos, também foi adotado, gerando bilhões em receita para a Tesla. Em 2020, a empresa teve seu primeiro lucro anual — e, em janeiro de 2021, Elon Musk foi declarado o homem mais rico do mundo.
Repetindo: na China governada pelo Partido Comunista, a Tesla de Elon Musk foi agraciada com: (1) benefícios regulatórios sem precedentes, (2) empréstimos com taxas abaixo do mercado e (3) grandes isenções fiscais.
Mas os privilégios não pararam na esfera econômica.
No campo jurídico e midiático, a Tesla desfruta de um tratamento excepcional. Jornalistas chinesas disseram à Associated Press – sob a condição de anonimato, temendo retaliações – que há uma regra tácita para evitar cobertura negativa da montadora: “‘Nosso editor nos disse que não deveríamos escrever negativamente sobre a Tesla porque é uma empresa importante que foi introduzida e protegida pelo governo de Xangai’, disse um repórter de tecnologia à AP”.
Mas é nos tribunais chineses que a exceção assume contornos escandalosos. Segundo a “análise de documentos judiciais públicos e reportagens da mídia chinesa feita pela Associated Press”, nos últimos quatro anos, os consumidores venceram apenas 9 das 81 ações movidas contra a Tesla por motivo de mau funcionamento dos automóveis. Em contrapartida, nos processos movidos pela própria empresa contra pessoas e entidades que criticaram publicamente os seus produtos, o resultado é ainda mais revelador: a Tesla venceu todos os onze casos com decisão judicial publicizada – os quais envolvem seis consumidores, seis blogueiros e dois veículos de comunicação.
É inevitável a sensação de estranheza ante o sucesso da empresa de Elon Musk nos tribunais chineses. Como observou Bill Russo, fundador da Automobility Ltd., uma empresa de consultoria com sede em Xangai: “É como ir ao cassino e ganhar todas as jogadas”. O Tribunal Popular Superior de Xangai, no entanto, sustenta que os julgamentos foram imparciais e “justos”, baseados nos fatos objetivos de cada caso. Nas palavras do tribunal, em resposta à AP: “Não se pode presumir que a parte recebeu ‘proteção especial’ ou ‘tratamento especial’ por causa de sua vitória”.
O caso mais emblemático, que dá título à reportagem, é o de Zhang Yazhou, cuja família sofreu um acidente em fevereiro de 2021. Ela processou a Tesla por falha nos freios, pediu acesso aos dados do carro, foi ignorada, protestou, viralizou, foi acusada pela empresa de não agir por conta própria nos protestos, teve os seus dados pessoais divulgados na internet pela própria Tesla – o que lhe rendeu ameaças online –, processou novamente por difamação, perdeu os dois casos que moveu — e acabou sendo ela processada. E perdeu novamente.
Em um julgamento a portas fechadas, em maio de 2024, um tribunal de Xangai ordenou que Zhang se desculpasse publicamente e pagasse uma multa de mais de US$ 23.000 à empresa mais valiosa do mundo, pois os magistrados consideraram que as suas queixas públicas foram além dos limites razoáveis e factuais. Ela recorreu, mas, por razões óbvias, suas chances não parecem boas.
O mesmo padrão se repete no caso de Chen Junyi, que também alegou falha nos freios que culminaram no acidente em que quebrou a coluna, quatro costelas e precisou remover 30 cm do intestino delgado. Por ter alertado as pessoas, em suas redes sociais, a não comprarem Teslas, foi condenado a pagar US$ 6.800 à empresa de Elon Musk e pedir desculpas públicas. Junyi, compreensivelmente, não quis dar declarações para a reportagem.
Em ambos os casos, a empresa se defendeu com base nos dados dos próprios veículos — dados que ela mesma controla, armazena e apresenta como prova. Pode-se ter certeza de que a Tesla não modifica ou apaga os dados dos carros que viram prova contra ela? É claro que não. O que se pode afirmar com segurança, à luz dos fatos levantados pela Associated Press, é que Elon Musk “prosperou em um sistema no qual os reguladores, a mídia e os tribunais — que, em última análise, respondem ao Partido Comunista no poder — estão, por definição, de alguma forma interligados”.
Não é comum que montadoras — na China ou em qualquer outro lugar — processem seus clientes. A Tesla foi, portanto, pioneira nessa estratégia jurídica agressiva de silenciamento dos seus críticos. No que se refere aos Estados Unidos, porém, também foi alvo de inúmeras reclamações e ações judiciais, mas não se atreveu, pelo menos até agora, a processar consumidores por críticas públicas. O que não deixa de ser uma ironia incômoda, especialmente para os defensores da democracia popular chinesa como modelo de avanço civilizatório. Imagine o quão desgostosos ficariam ao visitar as províncias de Jiangsu e Fujian e descobrir que os carros da Tesla figuram ali, legalmente, entre os carros oficiais do governo de partido único.[xxii]
Casos como os de Zhang Yazhou e Chen Junyi colocam dificuldades a uma premissa hoje amplamente defendida por setores da nossa esquerda nacional: a de que a regulação estatal das plataformas digitais é, em si, um avanço democrático. No Brasil, por exemplo, a regulação legal é geralmente defendida como o instrumento capaz de limitar o poder das big techs, combater a desinformação e proteger os usuários — e muitos dos seus defensores apontam o modelo chinês como evidência de que é possível conter o domínio privado sobre o espaço público.
Mas, à luz do relatado na matéria da Associated Press, o resultado parece ser justamente o oposto: em vez de restringir o poder das plataformas, a regulação estatal serviu para silenciar consumidores comuns, proteger a Tesla de críticas legítimas e garantir sua hegemonia judicial — inclusive com base em dados que ela mesma controla.
Quem usa quem?
Mas, considerando o fato de a China ser uma civilização com quatro mil anos de história, vale considerar uma hipótese: e se a China só estiver usando Elon Musk?
Ora, não seria exatamente inédito. O histórico do Partido Comunista com empresas estrangeiras mostra que a fidelidade nunca fez parte do acordo. O Google entrou na China em 2006, adaptou-se à censura, mas foi expulso em 2010 após se recusar a continuar cooperando[xxiii] — e deixou o espaço livre para o crescimento meteórico do Baidu.
A Uber, ao tentar penetrar o mercado chinês entre 2014 e 2016, foi rapidamente engolida pela Didi Chuxing, que contava com apoio direto do Estado e acesso privilegiado aos dados nacionais — e que hoje domina o setor.[xxiv]A Apple, embora ainda presente, vê sua influência ser minada a cada ano: apps censurados, restrições ao uso de iPhones por funcionários públicos,[xxv] e uma crescente substituição simbólica por marcas nacionais como a Huawei.
Esses são apenas alguns exemplos, mas o padrão é claro: tolerância enquanto úteis, substituição assim que possível. Empresas estrangeiras são bem-vindas quando podem transferir tecnologia, formar cadeias produtivas, abrir mercado e, por fim, serem descartadas. A estrutura permanece — mas com controle local e rótulo nacional. E se com a Tesla não for diferente?
De fato, a sucessora já está entre nós — e responde pelo nome de BYD. A montadora chinesa, que até poucos anos era tratada como iniciante no jogo dos veículos elétricos, neste primeiro semestre de 2025, não apenas ultrapassou a Tesla em número de unidades vendidas, mas também em lucro, receita e presença global.[xxvi]
E o seu avanço não se limita à esfera comercial. O supercarregador de 1.000 kW da BYD, por exemplo, não apenas dobrou a potência dos modelos atuais da Tesla como tornou-se um indício de que o desenvolvimento tecnológico na China já não depende da mediação ocidental.[xxvii] E mais importante ainda: a expansão da BYD também opera sobre o terreno ideológico.
A sua presença global cresce justamente onde Elon Musk encontra resistência institucional ou simbólica: América Latina, Sudeste Asiático[xxviii] e, de modo particularmente emblemático, Europa.[xxix] Como bastante noticiado nas mídias, a montadora chinesa “vendeu mais veículos totalmente elétricos na Europa do que a americana Tesla pela primeira vez, mesmo enfrentando tarifas mais altas impostas pela União Europeia (UE). […] Dados da consultoria especializada mostram que as vendas da BYD na Europa cresceram 359% em abril na comparação anual”.[xxx]
Seria, portanto, exagero imaginar que a Tesla foi apenas o estágio inicial de um plano mais amplo — em que a China absorveu know-how, cadeias produtivas e inteligência de mercado para, em seguida, substituí-la por uma empresa nacional, já otimizada e geopoliticamente mais estável? Que Elon Musk, em sua associação política com Trump, tenha contribuído para a valorização da marca que acabará conduzindo à derrocada da sua empresa mais rentável?
A ironia é que, segundo o próprio Donald Trump, o estopim da briga pública entre os dois foi a descoberta, por parte de Elon Musk, de que o novo pacote legislativo republicano eliminaria incentivos a veículos elétricos[xxxi] — um golpe à Tesla no exato momento em que a BYD, amparada pelo Estado chinês, assume a dianteira global. Tenha sido esse o estopim ou não, fato é que à Tesla sofreu um prejuízo inédito: segundo estimativas da Bloomberg, a fortuna de Elon Musk encolheu em US$ 34 bilhões após o conflito com Trump.[xxxii]
E aqui se revela mais um ponto de inflexão. Pois enquanto Elon Musk anuncia o início experimental de seus robotáxis em Austin como tábua de salvação para a Tesla[xxxiii] — mesmo diante de investigações de segurança, tecnologia defasada e performance inferior frente à Waymo do Google —[xxxiv] empresas chinesas como Baidu, WeRide[xxxv] e Pony.ai[xxxvi] já operam robotáxis autônomos em diversas cidades, inclusive exportando o serviço.
Ou seja, o que Elon Musk ainda promete, a China já implementa — e em escala. Mas a diferença não está apenas na velocidade de implementação. Está no próprio modelo de negócio. A BYD consolida-se como potência exportadora amparada pelo Estado chinês, que subsidia sua expansão, protege o mercado interno e garante acesso privilegiado a cadeias de suprimento. Estudos recentes indicam que o avanço da BYD decorre especialmente de uma distorção deliberada das regras da concorrência,[xxxvii] sustentada por meio de subsídios estatais maciços, empréstimos favorecidos, incentivos fiscais e mecanismos regulatórios como o sistema de créditos duplos (“dual-credit system”).[xxxviii]
Elon Musk tenta construir um império fechado, verticalmente integrado, com coleta de dados global operada por IA própria (xAI), infraestrutura própria (Starlink) e centro de treinamento próprio (Dojo). Já nocaso das empresas chinesas, trata-se de outra lógica: elas são parte do Estado. Embora mais de 90% das entidades de mercado na China sejam formalmente classificadas como privadas, a separação entre empresa privada e poder estatal, tal como se conhece no Ocidente liberal, simplesmente não se aplica ao modelo chinês.
Toda empresa de médio ou grande porte na China — especialmente nos setores considerados estratégicos — está, de algum modo, integrada ao Estado: seja por participação acionária, presença de células partidárias, alinhamento compulsório ou legislação de segurança.[xxxix] Não por acaso, como dito anteriormente, o privilégio concedido à Tesla — permitindo-lhe autonomia operacional em solo chinês, tratando-se de uma empresa inteiramente estrangeira — foi inédito.
Em suma: as empresas chinesas avançam em nome do Estado. Elon Musk, como exceção privada. E o paradoxo é que, apesar de parecerem antagônicos, um continua sendo tolerado — e até alimentado — pelo outro.
E o que se vê no setor automotivo é apenas um sintoma de algo maior. No campo das tecnologias estratégicas, o complexo empresas-Estado chinês não apenas reproduz — já supera, com eficiência e escala, o ecossistema originalmente encarnado por Elon Musk. A megaconstelação Qianfan, com previsão de até 28 000 satélites, espelha o modelo do Starlink, mas nasce sob controle estatal direto — sem mediação privada.[xl]
Na robótica, robôs humanoides multifuncionais comparáveis ao Optimus estão sendo desenvolvidos com financiamento público para aplicações civis e militares.[xli] Na neurotecnologia, universidades e centros estatais conduzem pesquisas em interface cérebro-máquina com apoio direto do governo.[xlii] E, no domínio mais estratégico do nosso tempo — a inteligência artificial —, modelos como o DeepSeek V3 já oferecem desempenho próximo aos melhores sistemas ocidentais, com custo computacional drasticamente inferior.
Esse avanço autônomo não nasce do nada: como já sugerido, é sustentado por investimentos públicos maciços em universidades de elite, que vêm formando especialistas quase insubstituíveis. A Chinese Academy of Sciences lidera o Nature Index desde 2016, e instituições chinesas já superam Harvard, MIT, Max Planck e CNRS em produção científica de ponta.[xliii]
Um caso emblemático, nesse sentido, é a contratação, pela OpenAI, de dezenas de graduados da Tsinghua University — uma instituição chinesa de excelência, formalmente incumbida pela “Comissão Militar Central de construir um laboratório nacional de inteligência militar de ponta, como parte da estratégia de construir uma ‘China forte em Inteligência artificial’”.[xliv] Emblemático, porque é no mínimo curioso que talentos formados sob diretriz estratégica de um Estado rival integrem os quadros de uma empresa que agora lidera o “novo Projeto Manhattan” para o controle global da Inteligência artificial — o projeto Stargate, lançado em janeiro de 2025 com investimento inicial de US$ 100 bilhões. Seria quase como imaginar Oppenheimer recrutando graduandos de universidades do Terceiro Reich para projetar a bomba atômica.[xlv]
Se bem que, vale lembrar, ao fim da segunda guerra, os Estados Unidos de fato incorporaram mais de 1.600 cientistas, engenheiros e técnicos alemães — incluindo membros do Partido Nazista — para integrar seus programas militares e espaciais. Obviamente, não se trata aqui de uma comparação ideológica entre os chineses de hoje e os nazistas do passado, mas da possível identificação de um padrão: os conflitos ideológicos, embora mobilizem populações inteiras, tendem a se dissolver, no topo, diante de um desejo comum de domínio técnico.
Aquilo que antes parecia uma simbiose funcional entre Elon Musk e o Partido Comunista Chinês passa agora a revelar zonas de atrito e reposicionamento: o Estado assimilou a lógica da exceção tecnológica, absorveu os dados, as infraestruturas e os modelos de automação — e agora detém soberania própria, sem depender de mediadores estrangeiros. Estaria Elon Musk, nesse cenário, sendo descartado como exceção indispensável — e se tornando um artefato transitório, pronto a ser superado? Estaria Elon Musk — o homem que achava estar conquistando o mercado chinês — sendo engolido por ele? Talvez.
Mas, a se tirar pelo novo acordo firmado em 20 de junho de 2025 — em que a Tesla assinou um contrato de ¥4 bilhões (US$ 556,8 milhões) com a China Kangfu International Leasing e o governo municipal de Xangai para construir a maior usina de baterias da China —, Elon Musk permanece um operador valorizado dentro da estratégia chinesa de autossuficiência tecnológica e energética.[xlvi] E que tudo isso ocorra exatamente um dia antes de os Estados Unidos bombardearem o Irã — principal fornecedor de petróleo da China — parece especialmente significativo.
E talvez mais significativo ainda o seja o que emerge de registros judiciais em Delaware: mesmo como uma das principais contratadas de defesa do governo dos EUA, a SpaceX sistematicamente permitiu que investimentos chineses entrassem em seu capital, desde que mascarados por estruturas offshore nas Ilhas Cayman ou nas Ilhas Virgens Britânicas – os chamados paraísos fiscais, onde empresas garantem o anonimato total dos proprietários reais. Iqbaljit Kahlon — insider estratégico da empresa, responsável por intermediar capital e confiança há mais de 14 anos, em depoimento sob juramento no Tribunal de Chancelaria de Delaware — admitiu ter viabilizado esse trânsito em “diversas ocasiões”, com conhecimento tácito da cúpula.
Segundo seu testemunho, a SpaceX considera “aceitável” que investidores chineses comprem participações na empresa, desde que o façam por meio de “entidades intermediárias” que “tipicamente estabeleceriam estruturas BVI ou estruturas Cayman”. Uma política de ofuscação que especialistas em segurança nacional consideram inédita para uma contratada de defesa americana — especialmente quando o próprio CFO da SpaceX, Bret Johnsen, também sob juramento no Tribunal de Chancelaria de Delaware, admitiu pedir aos gestores de fundos para “ficarem longe de interesses de propriedade russa, chinesa, iraniana, norte-coreana”, mas aparentemente aceita os mesmos investimentos quando mascarados por veículos offshore.[xlvii]
Vale mencionar que o julgamento que trouxe essas informações a público — e que embasou a matéria investigativa publicada pela ProPublica, acima citada — não teve a SpaceX como parte formal, nem esse aspecto como foco.[xlviii] Logo, o que operava, segue operando.
Como dito anteriormente, reduzir Elon Musk a um bufão é confortável. Seguir as trilhas que revelam a magnitude da exceção que ele encarna é insuportável. E este texto escolheu o insuportável.
Considerações finais
Ou talvez — só talvez — essa a assimilação não seja unilateral, mas bilateral? Unipolar, mas bipolar? Como se diante do cenário geopolítico atual, estivéssemos diante de um espelho caleidoscópico: em que, numa ponta, a China imita Elon Musk no plano tecnológico, absorvendo sua lógica de startups integradas, enquanto, na outra, uma coalização tecnocrata, da qual a anomalia Elon Musk é a ponta mais visível, prepara-se para replicar a lógica da China no plano político?
Como se, de um lado, o Estado se fundisse com a lógica das startups — e, do outro, as startups preparam-se para devorar a lógica do Estado? Sim, ao que parece, estamos diante de perigosos talvezes. Até porqueconfirmar qualquer um deles seria reconhecer o borramento das distinções clássicas entre autoritarismo e democracia, Estado e capital, civil e militar – operado em tempo real. E a Anomalia Elon Musk, nesse cenário, já não seria um homem que não pertence a nenhum regime — seria como que a figura-limite onde o aparentemente incompatível converge.
*Mariana Lins é professora de filosofia na Universidade Estadual do Ceará.
Notas
[i] https://www.reuters.com/world/us/elon-Elon Musks-us-department-defense-contracts-2025-02-11/
[ii] https://people.com/elon-Elon Musk-walks-back-threat-to-decommission-spacex-dragon-spacecraft-11749781
[iii] https://www.twz.com/space/this-is-how-the-u-s-national-security-apparatus-is-dependent-on-spacex
[iv] https://www.reuters.com/technology/space/Elon Musks-spacex-is-building-spy-satellite-network-us-intelligence-agency-sources-2024-03-16/
[v] https://fedscoop.com/fbi-dea-interested-in-elon-Elon Musk-starlink
[vi] https://www.ndtv.com/world-news/iran-israel-attack-updates-elon-Elon Musks-starlink-activates-satellite-internet-service-in-iran-amid-israel-tensions-8674452
[vii] https://www.businessinsider.com/vladimir-putin-called-elon-Elon Musk-outstanding-denied-ukraine-starlink-request-2023-9
[viii] https://www.sigortahaber.com/elon-Elon Musks-father-admiring-putin-is-only-natural/
[ix] https://www.lemonde.fr/en/international/article/2025/06/11/elon-Elon Musk-s-father-a-guest-of-honor-in-moscow-praises-vladimir-putin-and-blames-his-son-for-falling-out-with-donald-trump_6742221_4.html
[x] https://www.wired.com/story/maye-Elon Musk-china-influencer-brands
[xi] https://www.biznews.com/global-citizen/2024/11/25/maye-Elon Musk-elons-mom-icon-china
[xii] https://g1.globo.com/politica/blog/andreia-sadi/post/2025/05/13/janja-lula-xi-jinping-tiktok.ghtml
[xiii] https://www.youtube.com/watch?v=XgP7cGjUZA4
[xiv] https://www.indiatoday.in/world/story/meta-worked-hand-in-glove-with-china-censorship-betrayed-us-values-shared-user-data-whistleblower-sarah-wynn-williams-2707845-2025-04-12
[xv] https://www.intercept.com.br/2025/06/04/oficinas-google-meta-partido-bolsonaro/
[xvi] https://revistaforum.com.br/global/2025/6/5/video-steve-bannon-diz-que-Elon Musk-e-do-partido-comunista-chins-180892.html
[xvii] https://www.aber.ac.uk/en/news/archive/2021/02/title-240459-en.html
[xviii] https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Rebelde_Desconhecido
[xix] https://revistaforum.com.br/global/chinaemfoco/2025/5/22/the-economist-admite-potncia-do-soft-power-da-china-179857.html
[xx] https://www.brasildefato.com.br/2025/01/24/netanyahu-defends-Elon Musk-in-the-controversy-of-nazi-salute-a-dear-friend-of-israel/
[xxi] https://apnews.com/article/tesla-china-lawsuits-Elon Musk-investigation-58b10ccace488784fcc63646ab78b410
[xxii] https://www.ecns.cn/business/2024-08-07/detail-iheeyrtw7460290.shtml
[xxiii] https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/censura-a-internet-google-fecha-as-portas-na-china-comunista.html
[xxiv] https://www.panrotas.com.br/noticia-turismo/internacional/2016/08/uber-vende-divisao-da-china-para-concorrente_128044.html
[xxv] https://www.wsj.com/world/china/china-bans-iphone-use-for-government-officials-at-work-635fe2f8?
[xxvi] https://cnevpost.com/2025/05/21/byd-tesla-top-global-bev-makers-q1
[xxvii] https://www.terra.com.br/economia/byd-entenda-como-funciona-o-supercarregador-que-pode-abastecer-um-carro-eletrico-em-cinco-minutos,32e1fe3bd109147e26d1a065cb045b9cpx0z0vxw.html
[xxviii] https://dialogue.earth/pt-br/negocios/byd-expande-mercado-de-carros-eletricos-pela-america-latina/
[xxix] https://www.investors.com/news/tesla-vs-byd-ev-sales-robotaxis/
[xxx] https://exame.com/ultimas-noticias/mercados/virada-de-jogo-byd-ultrapassa-tesla-na-corrida-dos-carros-eletricos-e-lidera-vendas-na-europa/
[xxxi] https://www.foxnews.com/politics/trump-disappointed-Elon Musk-criticism-big-beautiful-bill-saying-its-related-ev-incentive-cuts
[xxxii] https://www.bloomberg.com/news/articles/2025-06-06/Elon Musk-blinks-first-in-bitter-trump-feud-that-cost-him-34-billion?srnd=phx-industries-consumer
[xxxiii] https://techhq.com/2025/04/teslas-robotaxi-strategy-salvation-play-or-smoke-screen/
[xxxiv] https://techhq.com/2025/04/teslas-robotaxi-strategy-salvation-play-or-smoke-screen/
[xxxv] https://thebambooworks.com/weride-launches-24-hour-robotaxi-service-in-guangzhou
[xxxvi] https://www.reuters.com/world/middle-east/chinese-robotaxi-makers-head-welcoming-gulf-overseas-ambitions-grow-2025-05-28
[xxxvii] https://electrek.co/2024/04/12/china-gave-byd-an-incredible-3-7-billion-to-win-the-ev-race
[xxxviii] https://www.csis.org/blogs/trustee-china-hand/chinese-ev-dilemma-subsidized-yet-striking
[xxxix] https://www.brasil247.com/sul-global/a-mao-invisivel-do-estado-92-das-empresas-sao-privadas-na-china#google_vignette
[xl] https://www.ocafezinho.com/2025/06/02/china-planeja-lancar-28-000-satelites-para-destronar-o-starlink-de-elon-Elon Musk/
[xli] https://olhardigital.com.br/2024/10/31/ciencia-e-espaco/conheca-o-robo-chines-que-quer-competir-com-o-optimus-da-tesla/
[xlii] https://www.otempo.com.br/entretenimento/2025/4/1/implante-cerebral-chines-pode-ultrapassar-a-neuralink-de-elon-Elon Musk
[xliii] https://www.economist.com/science-and-technology/2025/06/18/are-chinas-universities-really-the-best-in-the-world
[xliv] https://archive.ph/g7qPp#selection-2437.0-2473.279
[xlv] Em artigo publicado em 2023, Leopold Aschenbrenner — ex-gerente técnico da OpenAI — afirmou que, com a contratação de pesquisadores vinculados à Tsinghua, a empresa estaria “basicamente entregando os segredos-chave da IA ao Partido Comunista Chinês em uma bandeja de prata”. A citação refere-se ao relatório interno de segurança que o próprio Aschenbrenner havia elaborado no ano anterior, e que, segundo ele, motivou sua demissão. Vide: https://washingtonexaminer.com/news/investigations/3256729/tsinghua-university-china-military-openai-hiring
[xlvi] https://timesbrasil.com.br/mundo/tesla-assina-o-primeiro-acordo-para-construir-a-maior-usina-de-energia-a-bateria-em-larga-escala-da-china/
[xlvii] https://www.propublica.org/article/elon-Elon Musk-spacex-allows-china-investment-cayman-islands-secrecy
[xlviii] https://news.bloomberglaw.com/esg/spacex-fights-to-keep-files-under-seal-in-chinese-investor-case
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